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“Pombo Correio” - Ideia para filme / livro

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Capítulo I – O Cheiro da Conquista


O vento do Oriente sussurrava segredos antigos enquanto a caravana avançava pelas areias vermelhas da costa indiana. As bandeiras da Pérsia tremulavam com arrogância sobre as tendas, cobrindo de sombra os rostos calados de uma terra recém-tomada.


Ali, na varanda de mármore da Fortaleza de Sarnath, Narses de Pasargada, o novo sátrapa designado pelo Império Aquemênida, observava com olhos frios a movimentação abaixo. Seu rosto esculpido em pedra, duro, acostumado a não ceder.


A brisa carregava o cheiro pungente de especiarias, suor e promessas não cumpridas. Narses detestava tudo naquele lugar: as cores vibrantes, os cânticos que pareciam zombar de suas ordens, a liberdade nos gestos daquelas pessoas.


— “A desordem veste seda neste maldito país” — sussurrou para si, amassando uma carta que recebera dias antes de Alexandre, o Macedônio.

“Procure-me caso precise de suporte”, dizia a caligrafia firme.


Na praça do mercado, entre tecidos de caxemira e pulseiras de latão, o povo se reunia. Estavam ali também elas, as que Narses jamais nomeava.

Hijras.


Mulheres, espíritos livres ou seres que não cabiam nos moldes que o sátrapa tentava impor. Dançavam ao som de tambores e flautas, os véus rodopiando como se desafiando as leis do mundo. Seus risos flutuavam acima da rigidez dos soldados persas.


— “Aberrações…” — murmurou Narses, sem conseguir tirar os olhos da beleza crua daquela dança.


Naquela noite, enquanto caminhava sozinho para inspecionar os arredores, Narses foi surpreendido. Um cão magro e sujo seguiu seus passos.

— Vai-te embora — ordenou, mas o animal permaneceu.

Curioso, o sátrapa desviou por uma ruela estreita e ouviu, ao fundo, uma canção diferente, hipnótica.


As tochas iluminavam um pequeno templo adornado com símbolos estranhos aos olhos do persa. Sentiu-se atraído, mas conteve o impulso. Antes que pudesse se virar, uma voz firme ecoou na escuridão:


— “Você busca o que teme.”


Do outro lado da rua, uma figura emergiu sob o luar. Ela. Pele morena como bronze polido, olhos negros como poço sem fundo. Seus cabelos caíam soltos até a cintura, adornados com pequenos sinos dourados que tilintavam a cada movimento.


— “Quem ousa falar assim comigo?” — a voz de Narses soou áspera, mas algo dentro dele vacilou.


— “Chamo-me Anaya. Sou apenas uma dançarina… ou o que você quiser enxergar.”


Por um instante eterno, os dois se encararam. O sátrapa, senhor da guerra e do aço, sentiu algo que há muito não conhecia: curiosidade misturada a medo.


Anaya sorriu com ternura enigmática, girou sobre si, e desapareceu na multidão, deixando apenas o som distante dos sinos.


Narses ficou parado, imóvel, sem saber se tinha testemunhado uma provocação, uma ameaça ou um convite.


O cão continuava ao seu lado, como se esperasse uma decisão.


Ele ergueu os olhos para a lua cheia, respirou fundo e sussurrou para a noite:


— “Amanhã mandarei selar os portões desse bairro imundo.”


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Capítulo II – A Revolta das Foices


A alvorada mal despontava quando os primeiros gritos ecoaram pelas ruas de Kashi. O sol tingia o horizonte de vermelho, como se já previsse o sangue que poderia ser derramado.


No palácio, Narses, ainda perturbado pela noite anterior, apertava com raiva a carta amassada de ordens. Com um gesto brusco, chamou seus guardas.

— “Selar o bairro. Agora. Nada entra, nada sai.”


Sob o peso da opressão, os soldados avançaram para as vielas sagradas das Hijras. Portões foram trancados, vielas bloqueadas com lanças. Mas o que Narses não previa era a reação do povo.


Homens e mulheres simples, trabalhadores de mãos calejadas, artistas, vendedores ambulantes, até mesmo sacerdotes e peregrinos se reuniram. Foices, enxadas, bastões e varas de bambu surgiram como extensão da indignação coletiva.


— “Eles são nossos!” — gritou uma mulher idosa, erguendo um bastão.

— “Deixem-nas em paz!” — ecoou um jovem comerciante.

— “Narses não manda em nossas almas!”


A multidão rompeu o bloqueio. Um mar humano avançou para o palácio, um turbilhão de coragem e desespero.


No tumulto, um dos soldados puxou brutalmente Ameera, uma das Hijras mais respeitadas e carismáticas, arrastando-a como refém. Suas pulseiras tilintavam, seus olhos, ainda que aterrorizados, mantinham-se firmes.


Ao ver o povo acampar furioso diante dos portões do palácio, Narses decidiu agir com crueldade exemplar.

Apareceu na sacada principal, segurando Ameera pelos ombros, como um troféu macabro. O silêncio caiu.


— “Aqui está sua rainha bastarda!” — bradou.

Com uma adaga, arrancou os ornamentos do cabelo de Ameera, expondo seus fios negros e grossos. Cortou-os bruscamente, lançando as mechas à multidão.

Pegou parte dos cabelos e os moldou como uma grotesca peruca para si, zombando:

— “Que vejam a farsa: homens que ousam se passar por mulheres, ultrajando a ordem natural e a dignidade do Império!”


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O povo gritou em horror e revolta. As foices ergueram-se mais uma vez.

Ameera permaneceu em silêncio, altiva, mesmo com as lágrimas rolando pelo rosto.


Com o punhal em mãos, Narses segurou-a pela cintura, e anunciou friamente:

— “Se não posso bani-los, arrancarei aquilo que os transforma na abominação que são.”


O punhal desceu até a cintura de Ameera. Um grito percorreu a multidão.


De súbito, um soldado avançou e segurou o braço do sátrapa com força. Era Ashan. Seu rosto estava pálido, mas sua voz firme.

— “Senhor, há crianças presentes… este ato desonrará sua autoridade. Devolva-a à sua casa. Se o Império ordenar o extermínio, eu mesmo o farei, mas não mancharemos o pátio sagrado com essa barbárie.”


O tempo congelou. Narses encarou Ashan com fúria e surpresa, mas percebeu que o povo aguardava sua decisão, prestes a invadir os portões.


Com desdém, soltou Ameera.

— “Que voltem ao esgoto de onde vieram…”


Em silêncio, Ameera foi escoltada de volta ao bairro, amparada pelos braços da comunidade. A multidão se dispersou aos poucos, sob olhares ainda ameaçadores.


Naquele mesma entardecer , sozinho em seus aposentos, Narses redigiu uma carta ao Imperador. Suas mãos tremiam.


“Grande Rei dos Reis,

Relato um caso sem precedentes ocorrido sob minha jurisdição. Uma casta obscena, chamada Hijras, desafia as leis do Império, iludindo o povo, e questionando minha autoridade.

Solicito instruções sobre como proceder para erradicar ou, ao menos, subjugar tal afronta.

Que a Vossa Sabedoria ilumine minha ação.”


Com o selo imperial, a carta partiu em um Pombo Correio para Susa. Agora, tudo dependeria da resposta do Imperador.


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Capítulo III– O Elixir da Libertação


O calor do dia havia se dissipado, dando lugar ao frescor úmido da noite indiana. O bairro das Hijras, perturbado durante o dia pela presença dos guardas, agora pulsava com vida. O ar vibrava com o som de címbalos e tambores, risos e passos descalços dançando sobre o chão de terra batida.


Entre as sombras, Ashan levava Ameera de volta a sua tribo, caminhava rápido, envolto na capa do uniforme real. Seu coração batia mais forte a cada passo que o aproximava da pequena tenda de panos coloridos, escondida atrás de um portão de madeira carcomida. Ao chegar Ameera agradeceu-o infinitamente por sua bondade. Ele apenas disse, “eu me identifiquei com você”. Sem entender muito ela apenas convidou-o para ficar.


Ele pensou em relutar, mas entre o cheiro dos incensos e a vontade de conhecer melhor o lugar, ele aceitou o convite, prometendo ser breve. De certa forma, ali ele não era mais o menino da fortaleza de Pasargada, vivendo em uma sociedade altamente hierarquizada. Ali, nas vielas iluminadas por lanternas de óleo, Ashan sentia um turbilhão de emoções que nunca ousara nomear.


Dentro da tenda, Anaya recepcionou-o. Seu olhar de onça silvestre o atravessou assim que entrou. O ambiente era saturado de aromas doces e picantes. Almofadas espalhadas pelo chão, tapeçarias com desenhos que pareciam se mover com a brisa noturna.


Ashan hesitou. Anaya se aproximou silenciosa e, sem dizer palavra, pegou uma pequena taça de barro esmaltado. Dentro, um líquido esmeralda brilhava como se tivesse vida própria.


— “Beber?” — Ashan sussurrou, incerto.


— “Apenas metade” — Anaya corrigiu, com um sorriso cúmplice. Após ele dar duas goles.

Ela colocou a taça sobre uma mesa de madeira envelhecida e retirou do peito um pequeno frasco e encheu com o conteúdo que havia restado na taça. “Amrita Loka”, o Elixir da Libertação, uma mistura rara de ervas sagradas, resinas e flores colhidas sob a lua cheia.


— “O que querem fazer?” — Ashan perguntou, a voz presa entre o dever e o desejo.


— “Se Narses vier para destruir nossas vidas… então que ele descubra a verdade escondida dentro dele.”


Ashan respirou fundo. Seu olhar mergulhou no dela. Logo de cara, como um dejavu, ele se lembrou da primeira vez em que, ainda adolescente, havia dividido um momento proibido com Narses sob o luar, um episódio que havia sido soterrado em seu interior, sem saber o que significava. Agora compreendia.


Confundido e quase meio cego, ele entrou em conflito consigo mesmo minutos após beber o líquido e achou que estava sendo envenenado, vomitando, gritava xingando as Hijras, “Malditas, traíram a minha confiança, vocês vão pagar, o que é isso que estou vendo”. Ele estava atordoado. Até que um o som começou a tocar e ele conseguiu retornar em si, após cerca de 1,5h.


— “Ele não aceitará” — disse, mas sua voz não tinha convicção.


— “O Elixir não força, apenas remove as amarras” — Anaya respondeu, colocando a mão delicadamente sobre a dele. — “Se há algo dentro dele, florescerá.”


Ashan voltou para casa como se aquela fosse a primeira noite de sua vida, o cheiro, o som, as cores, ele estava encantado pelo local.


Na noite seguinte, Narses, está em seus aposentos, quando Ashan adentra e convoca-o para uma suposta guerra no território do povo local, alegando uma manifestação que precisava ser contida entre os rebeldes. No caminho ele entrega o elixir para o governante, que apaga em cima do cavalo pouco depois, como se entrasse em coma.


Ashan rapidamente despista os demais guardas e foge com Narses para o acampamento das Hijras. Chegando até lá ele desperta, empinando suas facas contra tudo e contra todos, achando até mesmo estar de passagem pelo outro mundo, mas foi recebido com música, perfumes e sorrisos enigmáticos.


No início, manteve a pose. Mas conforme a bebida fazia seu efeito suave, sua rigidez se dissolveu. A música o envolveu como um véu. As luzes dançantes refletiam em seus olhos. Suas mãos, antes firmes e imponentes, agora flutuavam acompanhando o ritmo da dança.


A tenda se transformou. Hijras o rodearam, não para confrontá-lo, mas para acolhê-lo. Címbalos, tambores, vozes que subiam como uma prece libertadora.


E no centro, Anaya girava.


Seu corpo era poesia em movimento, quebrando as regras que Narses tentara impor.

O sátrapa, vencido por algo que não era guerra nem subserviência, deixou-se guiar. Seus pés, rígidos por anos, descobriram o prazer do abandono.


Por algumas horas, ele foi ninguém. Ou talvez, pela primeira vez, foi ele mesmo.


Quando o sol ameaçou nascer, Narses escapou em silêncio, o coração ainda acelerado.

Ashan o observava da sombra. Anaya apenas sorriu, como quem conhece o segredo de quem ainda finge não saber.


O bairro mergulhou novamente no silêncio.

A guerra ainda não tinha começado.

Mas as primeiras muralhas internas do sátrapa haviam caído.


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Capítulo IV – Sob as Sombras da Seda


O sol ainda dormia quando Narses, envergando um manto simples e capuz que escondia sua identidade, atravessou silencioso os portões traseiros da fortaleza. Os guardas receberam-os apreensivos. “Procuramos vocês a noite inteira senhor”. Mas ambos não deram atenção nenhuma para os soldados. Ao entardecer da noite seguinte Narses solicitou a presença de Ashtar para voltarem ao vilarejo.


— “Tem certeza, senhor?” — sussurrou Ashan, segurando a rédea do cavalo.


— “Não me chame de senhor esta noite” — respondeu Narses, montando com um olhar distante. — “Hoje não sou sátrapa.”


A viagem foi breve, mas tensa. Cruzaram campos enevoados, arrozais silenciosos e trilhas entre mangueiras e tamarindos. Quando finalmente chegaram, o acampamento das Hijras era uma explosão de luzes e vida sob o céu estrelado.


Lanternas de óleo balançavam nas tendas de panos coloridos. O aroma de sândalo, jasmim e incenso adocicado pairava pesado. Música flutuava como se o próprio ar dançasse: címbalos, tambores e flautas entrelaçados numa sinfonia hipnótica.


Anaya surgiu na entrada, usando um véu vermelho translúcido e sinos dourados presos aos tornozelos. Ela o reconheceu, mesmo disfarçado.


— “Seja bem-vindo, forasteiro que busca a própria alma.”


Narses tirou o capuz lentamente. Seu rosto, sempre duro, parecia suavizado pela hesitação e expectativa.


As noites no acampamento se tornaram um segredo sagrado.


A cada visita, Narses se libertava mais das amarras do império e das expectativas de masculinidade e poder. No início, ficava na sombra, apenas observando: Hijras dançando com véus esvoaçantes, cantando melodias ancestrais sob o luar.


Ameera, já recuperada, foi a primeira a quebrar o gelo, oferecendo-lhe uma pulseira de prata fina.

— “Todos que aqui entram, dançam. Hoje, é sua vez.”


Ashan, que sempre o acompanhava discretamente, se tornara mais que um guarda. No silêncio das noites quentes, sob as estrelas cúmplices, palavras se transformaram em olhares, e olhares se transformaram em toques. A paixão proibida entre Narses e Ashan floresceu lentamente, como a flor de lótus que só desabrocha na escuridão.


Certa noite, Anaya o surpreendeu com uma proposta:


— “Hoje, dançarás conosco.”


Vestiram-no com túnicas finas, tingidas de açafrão e índigo, e o cobriram com joias e véus. Puderam, pela primeira vez, ver o sátrapa não como um símbolo de tirania, mas como alguém despido de sua couraça.


Quando a música começou, os címbalos e tambores guiaram seus passos. O povo o viu dançar, primeiro hesitante, depois rendido, num abandono que desafiava toda uma vida de disciplina e poder. Sua voz se soltou em um canto grave e inesperadamente doce, uma canção persa antiga sobre amor e saudade.


A plateia silenciou, emocionada.


Ashan, à distância, não conteve um sorriso: o homem que o império moldara em pedra agora se permitia ser água.


Mas a noite não duraria para sempre.


Ao final da apresentação, Anaya aproximou-se com olhos sérios:

— “A guerra virá. Não contra nós, mas dentro de você.”


Narses baixou o olhar, sentindo o peso do amanhecer que se aproximava.

— “Não sei quem sou quando não sou sátrapa.”


Anaya tocou seu peito com delicadeza.

— “És humano. É o suficiente.”


Quando o primeiro canto dos pássaros anunciou a aurora, Narses e Ashan partiram em silêncio. Sabiam que, dali em diante, cada gesto, cada decisão, cada desejo, seria observado e julgado não só pelo Império, mas por eles mesmos.


O acampamento mergulhou novamente na quietude.

A noite de seda havia terminado.

Mas a revolução interior do sátrapa estava apenas começando.


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Capítulo V – Pombo Correio


O céu se tingia de dourado quando o pombo de penas cinzentas foi solto das muralhas do palácio imperial. Com um pequeno cilindro amarrado à perna, ele riscou o ar com precisão. Sobrevoou rios serpenteantes, florestas densas, planícies áridas e vilarejos que pareciam miniaturas vistas do alto. Enfrentou ventos cortantes, desviou-se de predadores alados e resistiu à tempestade que se formou ao longe, com relâmpagos rasgando a noite. Durante dias, atravessou o subcontinente até finalmente avistar os domos familiares do palácio do governador na Índia.


No pátio central, um dos guardas notou a aproximação da pequena silhueta e estendeu o braço. O pombo pousou exausto. O guarda, ao perceber o selo imperial, correu apressado pelos corredores sinuosos do palácio, seus passos ecoando como tambores de urgência. Ao chegar aos aposentos do governador, encontrou-os vazios. Com relutância, dirigiu-se à sala do vice-governador.


O vice-governador, um homem austero de rosto severo e olhos sempre semicerrados, que já nutria suspeitas sobre o comportamento do governador, rompeu o lacre da carta e leu em voz alta: “Faça o que for necessário para manter a ordem.”


As palavras ecoaram como sentença. Para ele, que já julgava em silêncio as visitas noturnas do governador à tribo Hijra, aquilo era uma autorização velada para agir.


Na calada da noite, o vice-governador enviou destacamentos de guardas. Suas ordens eram claras: vigiar, perseguir, capturar e punir aqueles que se aproximassem da tribo. Porém, alimentado pela suspeita e ambição, ele anunciou para as tropas que o governador havia sido sequestrado pelos Hijras e que deveriam marchar para libertá-lo – mesmo que para isso precisassem aniquilar a tribo inteira.


A coluna militar avançou com tochas e lanças, atravessando vales e bosques. Ao chegar à aldeia, o cenário era silencioso, mas tenso. As sombras projetadas pelas fogueiras dançavam como espíritos guardiões. No centro, uma figura vestida com as túnicas reais aguardava altiva, sob o olhar apreensivo da comunidade.


O grito do comandante soou como trovão: “Soltem o governador!”. Porém. Ele arquitetou uma emboscada para matar o governante, presumiu-o por sua vestimenta.


Quando o comandante avançou  e golpeou a figura, a verdade se revelou cruel. Não era o governador, mas sim Ashtar, seu amado, o jovem que desafiara todas as normas para viver aquele amor proibido. Seu corpo tombou ao chão sob um silêncio estarrecedor.


O choque percorreu os rostos dos soldados e da tribo. A tragédia estava selada. E o verdadeiro governador, que estava com as vestimentas das Hijras, assistiu o desenrolar, sentiu-se despedaçado entre o amor e a culpa.


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Capítulo VI – A Queda do Império


O peso do corpo inerte de Ashtar repousava sobre os ombros de Narses, que caminhava em silêncio absoluto pelo vale que separava a aldeia do palácio governamental. A alvorada tingia o céu de um cinza pálido, como se a própria natureza lamentasse. Cada passo era um fardo de dor e amor perdido, e as lágrimas escorriam ininterruptas pela face de Narses, misturando-se à poeira da estrada.


Ao chegar aos portões do palácio, os guardas abriram caminho em silêncio, dominados por um respeito sombrio. Narses deitou o corpo do amado sobre uma pira cerimonial preparada no centro do pátio. Mas antes da cerimônia de cremação, ele ordenou que todos os soldados presentes bebessem da poção da verdade.


O efeito foi devastador. O pátio rapidamente se transformou em um caos de náusea e desespero. Soldados caíam de joelhos, vomitando incessantemente. Não apenas seus estômagos, mas também suas convicções e certezas eram esvaziadas. O choque da revelação os desarmou de toda arrogância e preconceito. Quando finalmente recobraram a consciência, já não eram os mesmos.


O comandante, porém, jamais foi visto novamente. Embora tenha sido formalmente perdoado, seu espírito não encontrou redenção. Muitos acreditavam que ele vagava pelos confins do mundo, incapaz de se perdoar pela vaidade e cegueira que o haviam levado a cometer um erro irreparável. O que ele viu naquela noite pareceu ter destruído as bases de sua própria existência. Seu juízo, tal qual o império que servia, ruiu.


Narses, ainda devastado pela dor, retirou-se para os aposentos e escreveu uma última carta ao império persa:


“Vossa Majestade, fomos vencidos. Os ‘revoltosos’, como chamais, tomaram o poder. Esta é minha despedida. Ao receber essa mensagem provavelmente estarei morro. Não serei mais vosso governador. Peço que não busque retaliação, em minha honra. A batalha foi justa”.


Após selar a carta, Narses caminhou até a margem do Ganges, carregando o corpo purificado de Ashtar. As Hijras se reuniram silenciosamente, formando um círculo de respeito e reverência. Ao som de cânticos ancestrais, o corpo de Ashtar foi lançado às águas sagradas, onde a correnteza o levou suavemente, como um espírito livre retornando ao infinito.


Diz a lenda que, a partir daquele instante, o império persa começou a se desfazer. Os soldados que haviam experimentado a verdade espalharam-se pelos territórios, dissolvendo exércitos, desmantelando hegemonias e rejeitando as guerras. A máquina imperial, que por séculos havia se sustentado na opressão, não suportou a maré avassaladora da consciência despertada. O mundo mudou, não pela espada, mas pela verdade. E nas águas eternas do Ganges, Ashtar tornou-se o símbolo da revolução mais poderosa de todas: o amor que desafia e vence impérios.


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Ideia central:

Na época da Pérsia, após chegar as índias, um governante persa foi eleito para gerenciar a nova terra conquistada, porém ele era preconceituoso e transfobico, incitando o ódio contra grupos minoritários. Em uma ocasião ele vestiu uma peruca e disse que as mulheres estavam perdendo seus espaço para homens que se sentiam mulheres, desvalorizando todo um grupo de Hijra. Essas Hijra eram mulheres que já estavam na região e esse governante queria ir contra a vida delas. Pedindo apoio de Alexandre para tal, já que a população local as protegiam e iam contra a opinião desse governante local. Porém, um soldado Persa encontrou uma dessas Hijras e disse a ela que ele há muito tempo, na época da infância já havia se deitado com ele e achava estranho esse tipo de atitude. Porém, que ele vinha de uma família muito rígida e por isso talvez quisesse tanto fazer aquilo.

As Hijras ao saberem daquilo tiveram uma ideia: levar o bofe para uma festa delas  e dar para ele uma bebida local que tinha a fama de libertar o espírito e as amarras sociais em uma festa. Esse guarda colocou  um pouco dessa poção na bebida do governador local e conduziu embriaagado para uma festa cheia de músicas e danças com as Hijras, no começo ele estranhou mas no fim estava dançando muito as danças e até acabou de envolvendo com algumas pessoas da festa. No outro dia, o mesmo ocorreu, mas era em segredo para ninguém saber, pediu o governador. Até que os dias foram passando e logo aquele espaço se tornou o seu refúgio, local que ele ia para ser quem ele realmente era. Ele não  entendia, mas se sentia pertencente. Uma noite, porém , Alexandre respondeu através de um pombo o governabre local, dizendo que ele tinha autonomia para fazer o que quisesse com o povo local, foi quando sem permissão um dos guardas que estavam no comando na ausência do governante ordenou que os soldados  marchassem em direção ao acampamento das Hijras, a festa estava acontecendo, era madrugada de domingo, quando uma faca foi empunhada no coração de uma das Hijras com ódio, o som foi abafado pelo grito ensurdecedor. O governante que estava ali em seu primeiro show montado, ao ver aquilo mandou tudo parar. Mas os soldados não reconheceram-o até que chegou o guardião do governante, e pediu para parar, enquanto isso o governador tirava a maquiagem, porém, o guardião foi morto, foi chamado de traidor. Quando viu aquilo o governante com suas lágrimas acabou de sair a maquiagem e foi conhecido. Ele não esperava mais resposta do imperador. Ele ordenador que tudo se encerra-se e mandou os guardas voltarem ao palácio. Com o coração partido e o corpo do homem que amava nos ombros o governador voltou chorando até o reinado. Foi quando escreveu uma carta ao Imperador dizendo que o povo havia se resolvido e que o governo teria que sair imediatamente daquelas terras, ele deu um pouco da bebida para os seus soldados e dizem que muitos deles nunca mais foram vistos, não quiseram nunca mais voltar ao domínio macedônio. Diz a lenda que as demais vezes que os persas tentaram adentrar a região, os soldados protegeram.


capitilo II - Após ele dizer que ia selar os portões ele manda guardas até o local, porém, a população enfrenta os guardas e falam para eles deixarem-os em paz. E vão com foices e tentam invadir o palácio do governante e levam uma das Hijras como refem. O governante então aparece com a Hijra sequestrado na sacada onde o povo, com foices, cobra a devolução dela, ele então corta o cabelo dessa Hijra e faz uma peruca para si, e diz que não suportará ver elas ali, se passando por mulheres, enquanto possuem genitália masculina, quando vai cortar a genitália dessa Hijra, porém um soldado intervém, e diz que há crianças no local e que o melhor a fazer é devolver a Hijra ao seu local de origem e que se fosse necessário ele mesmo exterminaria, nisso o governante escreve uma carta para o imperador, relatando o caso e pedindo a sua orientação




 
 
 

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