A Necessidade de Políticas Globais para a Democratização do Reconhecimento Cultural no Cinema
- Your Tutor TCC
- 4 de mar.
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O reconhecimento internacional de produções cinematográficas fora do eixo norte-americano ainda é um desafio significativo no cenário global. A recente vitória do filme brasileiro Ainda Estou Aqui no Oscar 2025, ao conquistar a estatueta de Melhor Filme Internacional, evidencia a capacidade de produções de outros países de competirem em pé de igualdade com os tradicionais vencedores. No entanto, essa conquista, classificada por veículos internacionais como “surpreendente” e “inesperada”, reforça uma problemática estrutural: a hegemonia cultural norte-americana na valorização da sétima arte e a necessidade urgente de medidas que promovam um reconhecimento mais equitativo das diferentes narrativas cinematográficas ao redor do mundo.
A cobertura da imprensa estrangeira sobre a premiação expôs o padrão recorrente de priorização de produções estadunidenses e europeias em detrimento de obras de países historicamente marginalizados no circuito de premiações. A revista Variety, por exemplo, destacou a vitória de Ainda Estou Aqui como uma reviravolta diante do favoritismo do filme francês Emilia Pérez, que, apesar de suas treze indicações, saiu com um desempenho muito aquém do esperado. Esse contraste evidencia como mesmo obras de grande impacto cultural e histórico, como o longa de Walter Salles, podem ser subestimadas frente a títulos que já possuem um espaço consolidado na indústria.

A questão central não reside apenas na dificuldade de acesso ao reconhecimento, mas na forma como o domínio da indústria cinematográfica pelos grandes estúdios de Hollywood influencia as métricas de premiação e distribuição. Muitas produções latino-americanas, africanas e asiáticas enfrentam barreiras que vão desde a dificuldade de financiamento até a escassez de circuitos de exibição internacionais, tornando mais complexa sua ascensão no mercado global. Isso cria um ciclo vicioso onde apenas filmes produzidos dentro dos padrões estabelecidos pelas grandes indústrias conseguem visibilidade suficiente para disputar prêmios de relevância.
A criação de políticas inclusivas que incentivem o reconhecimento multicultural na indústria cinematográfica é, portanto, uma necessidade urgente. A proposta de que organizações internacionais, como a ONU, abram editais específicos para premiar e financiar cineastas de diversas nacionalidades surge como uma alternativa viável para descentralizar a produção e distribuição do cinema global. Esses editais poderiam ser conduzidos por um comitê de especialistas multiculturais, garantindo que as obras fossem avaliadas de acordo com critérios que valorizem não apenas a excelência técnica, mas também a diversidade temática e a relevância cultural de cada produção.

Além disso, a implementação de iniciativas que incentivem a circulação dessas obras em festivais internacionais e plataformas de streaming poderia contribuir para um público mais amplo ter acesso a diferentes expressões cinematográficas. O reconhecimento do filme brasileiro no Oscar 2025, embora simbólico, reforça que a arte precisa ser vista além das fronteiras impostas por interesses comerciais. O fato de Ainda Estou Aqui ter sido um sucesso de bilheteria no Brasil e ter gerado uma forte comoção nacional demonstra que há um interesse real do público por histórias autênticas e representativas, o que fortalece o argumento de que a arte cinematográfica não deve ser restrita a um único polo de produção.
A vitória inédita do Brasil no Oscar evidencia o potencial de produções de diferentes países em conquistar espaço e relevância global. No entanto, enquanto o sistema de reconhecimento continuar a privilegiar certas indústrias e ignorar outras, a segregação sociocultural permanecerá como um obstáculo ao desenvolvimento da arte. A descentralização do poder cultural é essencial para que o cinema se torne verdadeiramente global, permitindo que diferentes povos e histórias tenham o mesmo direito ao reconhecimento e à valorização de sua arte.

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