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A apropriação de causas sociais pelo marketing oportunista: de que forma a imagem do público-alvo pode ser prejudicada? Um foco sobre a responsabilidade pública

O marketing, enquanto ferramenta estratégica, possui um papel expressivo na construção de narrativas e na formação de imaginários coletivos. No entanto, quando utilizado de maneira oportunista, ele pode comprometer a autoestima social de grupos inteiros, especialmente quando explora temas sensíveis como emigração, desigualdade social ou crise econômica. Um exemplo recente e recorrente é o intenso marketing de empresas voltadas à emigração, que promovem a saída do Brasil para países como o Canadá, utilizando frases como “slide for a better life” (deslize para uma vida melhor), implicando que o simples gesto de deslizar o dedo em uma tela seria suficiente para deixar para trás uma vida “inferior”. Essa mensagem, aparentemente inofensiva, carrega implicações simbólicas profundas e problemáticas.


Ao anunciar a promessa de uma vida melhor em outro país, esse tipo de marketing não apenas explora as vulnerabilidades de quem está insatisfeito com as condições atuais, mas também reforça a ideia de que o país de origem — nesse caso, o Brasil — é um local de fracasso, estagnação e falta de oportunidades. O impacto dessa narrativa sobre a autoimagem coletiva dos brasileiros é notável: ela contribui para um sentimento generalizado de inferioridade nacional e desvaloriza os esforços locais de construção social, econômica e cultural. O que se vende, muitas vezes, não é apenas uma mudança geográfica, mas a ideia de que o Brasil não é, e talvez nunca será, suficiente.


Esse discurso não é neutro. Ele atua na psique individual e coletiva, alimentando o imaginário de que o progresso pessoal só é possível fora do território nacional. Isso fragiliza o vínculo do cidadão com seu espaço, sua identidade e com a noção de pertencimento — elementos fundamentais na construção de uma nação forte e consciente de seus potenciais. Ainda que os indicadores de qualidade de vida em países como o Canadá sejam, de fato, melhores em muitos aspectos, a forma como esses dados são utilizados em campanhas publicitárias precisa ser alvo de reflexão ética. Afinal, não se trata apenas de informar, mas de induzir a decisões complexas com base em slogans reducionistas.


A crítica não deve recair sobre quem deseja ou escolhe emigrar, pois a mobilidade é um direito legítimo, mas sim sobre a lógica de propaganda que transforma essa decisão em um produto vendável, empacotado como solução mágica para todos os problemas. A frase “slide for a better life” se inscreve numa lógica superficial, que ignora as reais dificuldades do processo migratório, como adaptação cultural, burocracias, racismo estrutural, saudade e a constante sensação de estar “entre mundos”. Além disso, obscurece o debate necessário sobre as causas da insatisfação social no Brasil, desviando a atenção do que poderia ser melhorado internamente.


Há, portanto, uma responsabilidade pública — ética e pedagógica — no uso de causas sociais em campanhas de marketing. Ao se apropriar de questões como desigualdade, insegurança ou falta de oportunidades, o discurso publicitário não deveria reforçar estigmas ou apagar a complexidade do contexto local. Ao contrário, poderia estimular o pensamento crítico, a valorização da cultura nacional e o incentivo a soluções coletivas. Esse tipo de discussão precisa ocupar espaço em ambientes de formação como as salas de aula, especialmente nas disciplinas de Geografia e Sociologia, onde os alunos podem refletir sobre sua posição no mundo, os fluxos migratórios e os fatores que condicionam as escolhas pessoais e coletivas.


Transformar um país requer, entre outras coisas, mudar o modo como ele é percebido por seu próprio povo. E nesse processo, o discurso público e o marketing têm papel decisivo. Quando a publicidade abandona a ética em nome da eficácia comercial, ela colabora para o enfraquecimento simbólico da nação e para a naturalização da fuga como única alternativa. Portanto, urge discutir com seriedade os limites entre a liberdade de mercado e a responsabilidade social, para que o marketing não seja apenas uma ferramenta de convencimento, mas também de consciência.


Exemplo de agências utilizando de forma errada do marketing:



 
 
 

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